terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A casa do destino

"O papel dobrado sob a mesa revelava as inquietações do coração e da mente. Eram só pensamentos soltos; a razão querendo transcender sobre a realidade imposta pelo universo; sonhos palpáveis, mas tão distantes e voláteis...
Era só aquela velha angustia de querer saber mais: ultrapassar os vales vistos da janela, correr sem saber para onde ir e, assim sendo, chegar onde encontramos a nós mesmos; chegar ao inesperado e a inecalculável satisfação que chamamos de acaso, o que, nada mais é do que nosso, e insubstituivelmente nosso, destino.


Em um daquelas surtos que nos faz sentir o coração e toda a sua força sobre nós, bateu  na mesa suas mãos, amassando o rascunho do que ainda estava por vir. Tirou o seu lenço vermelho do pescoço, sua marca pessoal, e o jogou longe.
Podia-se ouvir seus dentes chocarem um contra o outro, podia-se ver a desesperança nascendo em seus olhos, podia-se sentir o corpo quente que caia bruscamente na cadeira. E depois... depois tudo ficava calmo novamente.
Tamborilou os dedos em sua perna, respirou fundo, uma, duas, três vezes. Pegou novamente o papel e o desamassou. Com os mesmos dedos, mais calmos, desenhou uma linha, e depois outra. Foi passando a mão  até formar algo que lhe parecia familiar. "Talvez não", pensou. "Isso ainda não serve".
Abriu a janela, e o jogou, deixando o vento levar o seu então, desconhecido avião de papel.
Fechou a janela. Guardou seus outros rabiscos em uma gaveta. Trancou-os e nunca mais mexeu.
Só pôde respirar as velhas e amareladas folhas, anos mais tarde - em umas dessas mudanças que toda escrivaninha passa -  quando novas mãos e novas ideias as fizeram viver.
Talvez, em algum lugar, um dia, o velho do lenço vermelho soube que o mesmo vento que um dia levou o seu papel, levou também o homem às nuvens.
Acaso? Não. Deus não lança dados, mas inicia o jogo. E você o continua com seu destino."

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Soneto de um paradoxo visível.

"Tudo encaixa-se.
Onde o equilibrio desafina,
Onde a harmonia descalça:
O tempo ajusta.

Pelo caminho do bem:
os vãos dos meus dedos,
cabem perfeitamente nos seus.

Tudo desencaixa.
Onde há harmonia sólida,
Onde há equilibrio estável:
O véu da impureza desajusta.

Pelas falsas esperanças...
O vão da minha alma
escapa das suas mãos.

sábado, 13 de novembro de 2010

Lost me.

- Por favor, me devolva.
- O que? - Disse ele sem entender aqueles olhos expressivos e aquela boca apertada contra os dentes.
- Tudo. Tudo o que você tirou de mim! - Ensaiou tantas vezes essa frase que poderia convencer um auditório.
- Não sei do que... - Seus olhos percorreram todo o espaço em busca de alguma lembrança que fizesse sentido naquele momento.
- É sua culpa! - Suspirou duas vezes e disse com a mão no peito: - Não consigo me completar com ninguém. Não consigo me amar. Onde você me colocou? Por favor, devolva-me!
Num estalo tudo fez sentido. A pequena dos cabelos negros até a altura dos ombros, parada ali na sua frente, o fez lembrar do passado. Ela tinha mudado. Alguma coisa nela estava diferente... Mas o que é mesmo que ela queria?
- Diz alguma coisa! Não me olha com...
- Não me lembro onde te dexei. - disse ele com um sorriso torto.
Ele havia entrado no seu jogo. Podia-se ouvir dois corações bater fortemente, quase no mesmo ritmo.
- Você me perdeu, então?
- Perdi... Não sei. Talvez eu tenha te colocado em algum lugar onde eu lembraria de procurar... Caso eu precisa-se. - Sua voz era firme e grave. Quase rouca... Isso provocou arrepios na morta-viva.
- O que eu faço agora? - Disse ela recuando um passo, para não cair nas garras do predador.
Ele avançou dois. Seus hálitos podiam se chocar agora. Seus olhos dançavam juntos, num compasso hipnotizante. AH! Só quem sentiu isso, pode entender o que significa as mãos suarem.
- Acho que restou alguma coisa de você dentro de mim. Mas é tão pouco...
- Não me importa! Devolva o quanto tiver. - Foi ríspida. A razão começava a falar mais alto; o coração já não tinha mais carta branca.
- Enquanto eu procuro onde o resto de você está eu vou devolver o que ainda possuo.
Como um lobo faminto que saliva antes de saborear o pobre cordeiro, aproximou-se com a boca entre-aberta e com os olhos nos seus. Sua pupila dilatou e ela já podia se sentir viva outra vez. O predador que devolve vida a sua presa.
Suas bocas se encostaram. Então, o lobo se apaixonou pelo cordeiro. Soube a partir daí que ela sempre esteve dentro dele, tudo estava adormecido. Ela... Bom, ela pôde então sentir mais uma vez suas veias dançarem dentro de si. Estava viva.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Nuvens de algodão doce.

"Antes eu sonhava o tempo todo. Sonhava com você, com a vida, com o que podia ter sido e com o que vai ser. Inventava o meu script. Subia e descia ao céu em um segundo. Fazia dos sonhos o meu refúgio.
Sorria antes de domir quando lembrava de um abraço. Na maioria das vezes, ia além, inventava uma beleza a mais do que realmente tinha acontecido; um complemento inocente para eternizar ainda mais os momentos. Sonhava com um beijo roubado, outro de chuva, outro que estava por vir. Sonhava...
Via o meu futuro idealizado pelos os meus desejos mais quentes, mais intrínsecos, mais sombrios e únicos.
Agora, quando eu sonho a realidade me cutuca. "Hei, volte! Ainda falta muito." - me diz.
Tento deixar ela falar sozinha. Mas ela é insistente, e dá saltos na minha frente para chamar a atenção. "Me deixa sonhar um pouco mais, só mais um pouquinho, por favor...", respondo. Ela até aquieta. Porém, volta! Me puxa pela mão e me vigia por um tempo; vem me fazer lembrar que eu cresci, que tenho responsabilidades.
As vezes, me pego sonhando de novo quando a realidade se descuida e me confunde. Não sei é sonho ou se é verdade.
Talvez, eu ainda seja metade menina e metade mulher. Não quero ser mulher por inteira se eu tiver de abrir mão do meu prazer de fechar os olhos e me perder. Não, isso não.
Serei inteira sonhando e realizando. E serei uma somatória infinita se sonharmos juntos, sempre buscando realizar."

E. C. M.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

"Era linda. Tinha traços suaves, como se ondas calmas em dias quentes deslizassem sobre ela.
Olhos grandes, expressivos e brilhantes (rarissimos), combinando com seus cílios curvos; nariz fino e tão delicado, que se assemelhavam a copos de cristais em dia de Natal. A sua boca entrava em harmonia com sua maçã do rosto, era grande...belo mesmo era seu sorriso. Sua cor de luar lhe dava o toque final.
A casa era grande, haviam janelas por todo canto, não havia portas, não havia gente, não havia encanto ali. Cada dia, ela buscava uma janela diferente para ver o sol e o jardim de diferentes ângulos. Via passáros em árvores, flores nascendo, podia ouvir ao longe o som da água batendo nas pedras... E dava nome a tudo. Encostava o peito na janela e debruçava a sua cabeça sobre os braços, deixando que seus cabelos longos ficassem para fora da janela.
Passava ali o seu dia. Aquilo era felicidade para ela. Poder ver as mudanças da natureza com grande facilidade e saborea-las como se fossem suas.
Cresceu. Cresceu tanto que podia até mesmo sentar-se na janela. E disso ela gostava muito...
Um dia, o sol não nasceu. A chuva caiu, levando tudo o que via. Do lado de dentro podia se ouvir as trovoadas, o agito das árvores e o barulho da água se aflorando cada vez mais e mais...
Não entendia o motivo de tanta furia. Não havia nada na sua vida que lhe desse mais prazer do que ficar na janela, sonhando e vislumbrando a paisagem. Agora, de janelas fechadas se sentia vazia... Estaria ela sendo punida? Mas pelo o que? O que havia feito de tão grave que o que mais amava lhe foi tirado?
A sala estava escura e fria, quando então, resolveu abrir a janela. O jardim não era o mesmo, tudo estava fora de ordem, suas flores preferidas estavam do outro lado, havia árvores caidas.
Chorou tanto que acabou dormindo um sono pesado... Acordou e achou que tudo não passava de um sonho. Mas ainda podia sentir a dor no corpo que só a perda nos proporciona. Era tão real...
Os dias passam lentos e dolorosos quando nada nos pertence, quando nada faz sentido. Uma culpa grande vem nos atormentar "eu podia ter feito isso...", " se eu...". Assim, aquela figura de menina enluarada, com o corpo em leve movimento, se tornou fria e sem esperanças. Não havia mais o seu jardim.
Ouviu um barulho que lhe assustou muito. Alguma coisa estava do lado de fora e pedia para entrar. O engraçado, é que não sabia como, mas havia uma janela bem lá no fundo, que parecia maior e era justamente dali que ouvia o barulho. Chegou bem perto... Não teve a coragem de abrir. Não tinha forças para ver o seu jardim devastado.
Os dias passaram mais uma vez lento e sem graça; a prisão nos torna infrutíferos, alvo de nosso próprio medo.
Outra vez o barulho. Dessa vez, tão forte que se ela não abrisse, ele não pararia. A coragem só veio quando respirou fundo e pensou que nada poderia acontecer de pior do que perder o seu tesouro.
Ali estava... O jardim mais belo, os pássaros de cantos ímpar, a cachoeria podia ser vista bem de perto, a grama de estendia como um tapete de camursa... Não podia acreditar, não queria acreditar. Sentiu o sol batendo em seu rosto e queimando as lagrimas que caia...
Mais do que ver, agora ela podia tocar. Não estava mais distante... Estava ali. Correu por todos os lugares, riu e chorou de alegria por muito tempo. Pode beber a água da vida, pode beijar as flores do amor... Agora, ela podia TUDO.

Deus, quando nos fecha uma janela, nos abre uma porta. Deus, quando manda chuvas nos tirar, nos dá o sol para renascer. Nós quando achamos que perdemos o que mais valorizamos, Deus nos dá outros motivos para viver. Acredite, nada é por acaso. Tudo está em perfeita harmonia em meio ao caos... Por que Deus não erra. "

terça-feira, 20 de julho de 2010

Gota por gota é mar.

"Pedra sobre pedra.
Descalça na areia e olhos atentos,
Da paz que se busca
Agora, são só os ventos

Migalha por migalha.
Café na mesa e pôr do sol
Em dia de terra molhada

Passo por passo.
É pequeno o riso
Do vôo do pássaro
Livre e sem risco

Pouco a pouco, me refiz
Agora, sou louco
Louco pela vida de giz."

domingo, 18 de julho de 2010

Fonte de luz

Os puros erram... e erram mais do que todos, pois vigiam cada movimento que dão. A única diferença dos outros: os puros aprendem.
Eles sentem a dor do erro duas vezes. Uma por si e outra para quem também se feriu... Os puros não são egoístas até em sentimentos.
 Quando fico perto de alguém e sinto uma energia boa me envolver, olho para os seus olhos. É lá que mora toda a paz que carregam. Eles não precisam de asas, de roupas brancas... Estão até em roupas pretas. Se distiguem mesmo é pelo coração quente e fraterno.
O que me agrada nisso tudo é o fato de ainda ter pessoas com caráter que não desistem facilmente se entregando aos vicios... Consomem virtudes!
Os puros são aqueles que erraram, que distribuiram lágrimas, que plantaram mentiras e depois de tudo, se arrependeram. Recomeçaram. Criaram forças e sorriram mais uma vez pra vida. Os puros somos nós que buscamos sem cessar a paz e damos aos outros o pouco que temos.
Na verdade, isso tudo é o sussurro da alma que pede por compaixão. Ouvir não é fácil... Mas é o difículdade que petrifica a  pureza.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Força, o nó que une.

Isso ultrapassa qualquer definição e descrição, por que "só quem sente, sabe".
 A força nasce de uma fagulha produzida por nós mesmos. Muita gente acredita que a força surge do nada, que temos de cria-la, de tirar do inexistente. Ledo engano. Ela está bem aqui, dentro de nós, a todo instante.
Começa quando produzimos endorfina e não sentimos nossos pés tocarem o chão. Começa quando amamos, quando nos doamos, quando compreendemos. É ai que ela é produzida e fica armazenada para quando precisarmos.

Situações diversas vemos todos os dias de sofrimento, em forma de caleidoscópio; o pessimismo, a falta de visão do futuro, o "tudo dá errado", "mas porquê comigo?"  é um instinto de "cuidado!" que nós mesmos desenvolvemos no decorrer da vida. A força que foi armazenada começa a surgir, mesmo que não queiramos. Ela vem bem calma, em forma de sinais, e se nós nos recusamos por opção, ela não nos abandonará.

O passado não pode deixar de nos pertencer, assim a força que criamos sem perceber, ainda está lá, pronta para ser usada, é só nos darmos a chance. Nos permetindo, ela vem a todo vapor, pois a força ama a felicidade: é assim que se gera mais e mais.
Incrível como a vida faz todo sentido assim. As situações mais dificeis que passamos e depois conquistamos outra vez o lugar ao sol, é uma ponte para que possamos nos sentir realmente fortes e pronto para tudo. Nada nos deterá nessa fase de conquista, ela é saborosa demais, prazerosa ao extremo, sendo assim não queremos perde-la. Por isso, quanto mais uma pessoa "sofre" e não desiste, mais pura ela se torna. Não importa quantas vezes errou, se ela realmente quiser, a força dela está armazenada nos momentos de alegria total que já passou. As lembranças são poderosas se soubermos usar saudavelmente.
Alguém que nunca sorriu, que nunca se permitiu, pode até encontrar a força... através da raiva. Mas essa eu não entrarei detalhes, pois é óbvia: nada que se constrói em sólo infértil, dará bons frutos.
Por isso, acredito realmente que, devemos sofrer sim, nos dar um tempo para sentirmos tristeza, mas que nunca nos falte a vontade de ter força para recomeçar... Ela está muito próxima. Está dentro de nós.

domingo, 4 de julho de 2010

Não é de minha autoria, mas merce um espaço aqui.

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Parte 1 - Humanos.
"Queremos brincar nas nuvens, come-las como se fossem doce, deitar nas asas dos anjos; queremos caçar estrelas e quem sabe dá-las a quem amamos?; queremos elas como abajures. Pintamos com a ponta do dedo uma ponte até o céu, e logo estamos nós, tão próximos do sol... Queremos cidades inteiras de chocolate, um milagre por dia, uma insatisfação satisfeita; queremos algo que ande tão rápido que possamos estar em vários lugares em questão de segundos; quem sabe até, não queremos estar em dois lugares ao mesmo tempo? Queremos poder escorregar no arco-iris e no fim, achar o pote de ouro. E desejamos, loucamente, poder voar.
Queremos o que ainda parece ser impossível, por que o impossível é o que nos impulsiona a arte de realizar, onde só a nossa imaginação conseguiu chegar.
O possível, que é tão 'pequeno' e 'simples' já está ficando ultrapassado e sem valor..."

Parte 2 - Anjos
"Queremos poder brincar com as crianças, contar-lhe histórias antes de dormir; queremos deitar sob redes e ouvir o som das árvores e passarinhos; queremos poder dar a nossa coleção de conchas para alguém; queremos brincar em montanha-russas, queremos ficar em um lugar e ter unicamente alguém para proteger, queremos que sintam a nossa presença...; queremos poder tocar o chão de terra molhada, a areia fina da praia, o chão gelado das casas, e não só voar sobre tudo isso. Queremos poder dividir o ouro que o arco-iris esconde... queremos o pouco. O simples."


Agora, imaginemos se homens e anjos andassem sempre juntos, para um único fim. Impossível? Não... É tão simples. Mais, muito mais do que imaginamos.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

“Gosto do simples. Do cheiro de terra molhada e do orvalho. Gosto de uma conversa saudável, de amigos eternos, de família unida e presente. Gosto de cuidar, gosto da compreensão, da mudança, da fusão, do olhar e do sorriso. Gosto do que se soma, não do que completa. Gosto de todas as formas de amor, pois ele o único que sendo multiplicado, divide-se.

Errei e erro muito. Não tenho a pretensão de acertar sempre, mas de aprender. Eu sempre acho forças pra recomeçar. Tudo no meu tempo.

Tenho lá os meus momentos insanos e racionais. Sou, portanto, inconstante, imprescindível, espontânea, intensa e profusa.

Acredito nos meus sonhos e por isso não tenho medo de arriscar. Acredito nas pessoas, mas acredito ainda mais que, nada são sem Deus. E ter Deus para mim, está em cada ato, em cada palavra e a cada manhã. Ter Deus é não ter medo do impossível e acreditar na Sua fortaleza, em todos os momentos da vida.

E quando você achar que já me conhece o suficiente, eu vou te surpreender.”
 

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fragância d'alma

  "Talvez fosse o cheiro do orvalho tão puro, calmo e fresco que tivesse invadido minha garganta, queimando-a numa intensidade perceptível apenas àquele momento. Não que a beleza de outras flores, o desenho do sol nascendo, como uma pintura naturalista, ofuscasse o meu prestigio pelo simples... Mas excepcionalmente, o cheiro do orvalho, me fez fechar os olhos para todas as outras danças da natureza.
Me vi sorrindo calmamente, parada em frente aos primeiros raios de sol, e a primeira brisa da manhã.
É necessário, pelo menos uma vez na vida, que todos sintam a pureza que é o cheiro do orvalho. Ele te relembra infância, cenas rápidas e já esquecidas, te trás pessoas, momentos...
O cheiro é sem dúvidas, o artificio mais recomendado para aqueles que amam o passado. Ele é o sentido mais aguçado que temos, mesmo que imperceptível. E me diga, se não é bom, sentir um abraço forte, combinado com gotas de frescor? É a essência pura da nossa fraqueza mais bela.
Então é isso. É isso que me prende ao que ficou, é o que me prende ao que está acontecendo, e inevitavelmente o que está por vir. É o cheiro calmo e fresco, que trás a chamada nostalgia.
Dizem que são sopros de anjos, para nos fazer algum tipo de bem já esquecido. Pois estão, que seja!
Quando o êxtase do doce hálito da manhã, passou por mim, vi pessoas que eu amava e não lembra do quanto era intenso. Me lembrei que a essência humana está na alma que transborda pelos olhos, pelos sorrisos, por tudo onde possa ter verdade, nos fazendo sempre lembrar, e nunca esquecer que o quando dermos o ultimo suspiro um sopro de anjo nos fará recordar."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

"Mais uma vez...

... Me esqueci de dizer o essencial, entre tantas palavras que conheço. Me esqueci que nada se torna possível quando não se acredita. Me esqueci de andar devagar, de respirar fundo, quando o tempo parecia atropelar.
Eu errei... Oh! Eu errei, por várias vezes que nem sei se sou digna de tanto. Mas se aqui, estou eu, viva, é porque ainda não é o fim. Hoje, ou melhor, daqui um segundo estarei me metamorfoseando, ressucitando o que ainda há de bom em mim. Não posso mais esquecer de dizer amor, de acreditar na fé, de vencer o senhor do tempo com paciência.
Eu direi que estou sepultando o meu passado, hoje; e somente hoje, será meu futuro. Porque amanhã, amanhã eu serei uma borboleta e voarei por um único jardim. O jardim mais bonito, mais perfeito de todos. Sim, aquele que abriu os meus olhos e aceitou minha alma, me lembrando que ainda é possível recomeçar: o meu auto-perdão."

segunda-feira, 14 de junho de 2010

a-dorada

"Mil anjos sois, entre sóis
Diga-me, se não és tu?
Que danças entre lua e estrela
Sorrindo, lembrando-me:
'Sózinho não estás, meu amigo'
Pois anjo é luz.
E esta é a minha.
Mil asas sois, entre sóis
Pois é quente o abraço
Do anjo sincero;
Resgatou-me este do abismo
E colocou-me, mesmo sem asas
Ao seu lado,
ao lado da luz da lua."

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Decodifique.

"Eu gosto do beijo roubado; do aperto em desespero.
De mãos frias e suadas.
Do corpo deslizando sem força;
Eu gosto do beijo roubado; do aperto no peito.
Gosto de te ver ao longe,
brincando de ser sério.
Não acostumei com a falta de ar
provocado pelo seu sorriso.
Gosto é do seu beijo roubado; do aperto em laço.
Me deixo enroscar; te perdoo por pouco.
Te ver ir é me ver em meu próprio roubo.
Mas, vem... Vem me furtar
O seu único e verdadeiro beijo."


sexta-feira, 19 de março de 2010

Mor fi na

Desliza por detrás da pele;
Estanca o grito da epiderme.
Doce ilusão. Doce morfina.
Efeitos contrários são amargos!
Diz só quem sente.
É a rejeição: a dor;
Bruta e Estúpida.
É teimar com o efeito quente e prazeroso
Deixar que escape do coração
Uma fagulha de ar; pedir socorro.
Viver outraz vez; reviver o corpo, valorizar a alma.
E quando vem, fica.
Sacia a sede de fragilidade.
Mas ela vem.
Chega, cega e esperançosa,
Deslizando calma e forte por entre veias
A doce ilusão da morfina.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Seda.

"É tão difícil manter intacto o amor. Ele vai e volta a todo instante.
É.. é isso.. O amor é inconstante.
Quando muito, transborda em uma intensidade poderosa e não sabe qual caminho tomar. A indecisão é que transforma esse excesso em dificuldade. Quando pouco evapora na primeira dobra de esquina.
Superação é o que não existe no peito daqueles que não conseguem enxergar uma nova paixão ao velho amor; ficaram presos ao passado, ao não realizado e não conseguido.
Não há como seguir em frente quando o amor que se sente apenas machuca o outro. É preciso renovar. Ninguém é tão herói do seu coração que nunca desejou morrer do que ter que superar o desafio. É preciso querer.
Isso é uma teia tão perigosa; o jeito, a minha fórmula, é tentar concentrar as minhas forças lutando contra o medo, tentando escapar o mais rápido que eu puder. Não pular fases. Tempo à elas.
Eu vou ficar aqui, juntando os cacos que sobraram do que eu fui, esperando que eu não me torne uma presa fácil nessa armadilha tecida pelo instinto da aranha. Quando ela se aproximar eu saberei onde ir.
O medo pode até ser cego, mas eu ainda sinto. Não preciso dos olhos para sentir. Esse é o meu instinto.
Sem medo eu posso ir a adiante, de cabeça erguida.
Não, eu não vou gritar 'venci', eu vou calar o meu peito e dizer a mim mesma: pois, então, que venha a próxima.Mas se assim não for, se nada sair como o planejado, eu saberei que eu tentei. E tentei por amar demais."

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"Por um instante os fatos pareciam penas voando entre pássaros: confusos, fora de ordem, multilados.
Ainda mais, me via em frente ao espelho negro, causado pela desilusão. É impossível, para mim, descrever nas miseráveis palavras com ou sem concordância o que acontece com o coração quando o tudo se transforma em nada.
Talvez, perguntas sem respostas, escolhas sem saídas, sejam a melhor forma de representar um "adeus".
Ele parou de dizer os motivos pela qual  partiria,  -  não que eu estivesse ouvindo, meus sentidos estavam sendo esmagados, assim como seus pertences dentro de suas malas - percebeu o meu deslize e me olhou como se sentisse saudade dos meus olhos... Eu o vi de novo como MEU. Definitivamente, só a sua sombra, a mesma que me tirava o ar, poderia devolver-me a conciência.
- Desculpe-me...
Quem pede desculpas por partir? Eu estava no mundo errado. Esse não era o meu mundo, o nosso mundo. 'Desculpas' eram o que procuravamos antes, para que esse amor miserável pudesse continuar a crescer. Desculpas não eram assim! Eu me lembro bem de que quando o erro estava feito, o perdão ardia e lá se ia o erro, pois isso é amor. Perdão é rodar pela sala, cochichar promessas mutáveis no ouvido, abraços fartos e beijos com infinitos olhares.
Agora, isso tudo estava se desfazendo bem na minha frente. Em vez do abraço, os lábios se auto-apertavam e os olhos vermelhos de lágrimas não derramadas.
Descobri que a força vem quando não a temos. Não sei como cheguei até a porta, mas eu bem sei que a claridade de um dia indo embora invandiu minha pupila, e única coisa que eu senti naquele momentos foi o calor do sol se espalhando pelo frio da noite.
Ouvi seus passos se aproximando... Passou por mim e como nada mais injusto, um vento estúpido soprou em seu pescoço e seu ar invadiu meus pulmões. Meu corpo teve uma reação já esperada, como quando a realidade nos derruba: lágrimas. Meus olhos ardiam.
Pedi rapidamente para o que quer que estivesse me ouvindo, que ele não olhasse para trás e visse o quanto de amor estava deixando para trás. Nesse dia, tudo estava fora do meu poder... Ele olhou. Seu ultimo e inesquecivel olhar.
Hoje, abri a janela e uma pena entrou por ela. Segurei delicadamente em minha mão amando-a por segundos. Ao longe vi pássaros voando livres, brincando, sendo felizes. Invejei os cantos mudos, desejando estar ali com eles... Afinal, uma pena poderia não me fazer tanta falta e eu realmente poderia ser feliz nessa liberdade, assim como os pássaros."