quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Você é a música em mim.

"Foi nos acordes do violão que eu descobri que ainda penso em você. Foi no ápice da música, no momento em que o coração bate no ritmo da melodia, que eu descobri que eu estou te esperando.
Eu não sei onde você está, o que está fazendo e nem quem é. Mas eu te sinto tão perto, penso até que está próximo. Aquela intuição boba diz que não. Diz que você está longe, " ainda falta um pouco".
Não sei no que acredito, por que não sei se é verdade. Se você for assim, tão real quanto parece, pode demorar o tempo que for. Eu te espero.
Eu vou saber quem é você pela cor dos seus olhos, pelo seu sorriso e pelo seu cheiro, afinal, meu coração saberá igualar o que eu sinto quando ouço música e fecho os meus olhos, como quando eu abri-los para te ver. É o mesmo sabor.
Eu sei que saberei... "


E. C. M

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sangue 2 (continuação)

Sua pele agora fresca, fazia o vermelho que espalhou-se pelo corpo, muito mais nítido. Era fácil ver que, sua cor pálida era irreversível, não havia mais brilho.
Não soube decifrar o que ocorrera momentos antes da cena teatral, mas agora com os cabelos úmidos espalhados pelo seu peito quente, a realidade lhe batia, atordoava-lhe a alma; agulha no fogo: o ferro na pele.
Mordia os lábios e sentia o gosto interno, o sangue que ficou, do que não vivia mais.
Espalhou, diluindo o sangue, as gotas de lágrimas que acompanhadas de uma face sem-expressão, multiplicaram-se quando o silêncio foi a única música que se ouvia. Os batimentos estavam estáveis, por isso não os ouvia; não há como bombear sangue, quando o seu amor está nos seus braços, implorando-lhe calada que o seu beijo seja o veneno de salvação, que lhe traga de volta a vida - que foi tirada por você. Não há melodia mais propícia do que o silêncio, quando a realidade é areia virando vidro. Transparante e sólido.
Deixou cair sobre os olhos, agora fechados para o mundo, a sua lágrima. Sua dor, era a dor dela. Mas ela não sentia, não podia mais enxurgar suas lágrimas e dizer que tudo ia ficar bem; o crime foi cometido, ela se foi.
Encostou a cabeça no seu peito, pensando estar ouvindo o seu coração voltar a bater. É mais fácil não ter culpa quando roubamos virtudes de alguém e achar que há solução, do que pensar que tudo está perdido, assim, a dor se torna menor, menos densa, mais líquida.
Uma nuvem negra se espalhou sobre o ambiente e, o que se ouvia eram lembranças doces. Um sorriso parecia medonho agora, mas quem é que contém as lembranças quando elas vem no momento de dor? Sentiu que, seu riso era fugaz, era sombrio. Não tinha vida. Aliás, tinha, o que não tinha era motivo para viver.
Vendo o seu rosto ainda pálido, imóvel, seco e frio, teve a ância de aproximar-se e beijar o ultimo doce beijo. Limpou com a mão o percurso que o sangue havia feito na pele - do que agora parecia um anjo - deitou as mãos sobre os ombros, ensopando a camisa. Aproximou dos labios, e quanto mais chegava perto, mais vontade tinha de se juntar para a eternidade aquele corpo, pelo amor que sentia e escorria do seu rosto, pela vontade imensa de corrigir o erro, e voltar ao tempo em que o sorriso tinha motivo.
Não teve coragem de revelar o desejo que sentia beijando-lhe. Apenas disse, calmo, sussurrando:
- A morte, que sugou o mel do seu hálito, não teve poder contra sua beleza.*
Um barulho fez o eco da sala pertencer ao vazio. Agora, com o corpo junto ao seu, suas mãos entrelaçadas não podiam mais sentir.
O que ficou não foram os sentimentos, ele partiu, se afugentou na alma que agora vagava - quem sabe juntos?- o que ficou mesmo, foi o sangue que se espalhava. Foi o sangue derramado de um crime, de amor e ódio, que agora misturavam-se. Fundidos, jamais poderiam se separar, era sangue no sangue, corpo no corpo e vida na morte.
Isso já não importava mais, eles estavam, juntos.

E. C. M.

*Fala de Romeu, em "Romeu e Julieta", pouco antes do seu suícidio.

domingo, 15 de novembro de 2009

Sangue

É quente.
Escorre pelo pescoço; calmo e úmido. Percorre a pele em um caminho sem rumo. Não tem direção, não sabe para onde está indo, mas sabe de onde vem. Talvez, não saiba o porquê. Ele sabe que é vermelho.
O gosto de ferro fundido com açucar, continua escorrendo pelo pescoço, esquivando-se dos ombros... Parando lentamente pelo peito, escolhendo por onde deve seguir o curso, em quanto atrás o rastro vermelho de fogo vai deixando as migalhas; chega até o centro e fica lisongeado por estar perto do coração. O que os separa é a pele, que agora arrepiada, sentindo o poder da flama, tenta expulsar com a intenção de deixar que o calor interno se espalhe com o fogo lá fora que desce, desce e desce.
É o corpo contra o corpo. A mente sem entender o por que, o coração batendo, querendo as gotas do rastro externo, quer a todo custo juntar-se aquele fogo. Ser um só. Poder fazer parte da marca que nasceu no pescoço e escorre, como a veia.
O caminho é escolhido. Ele vai; é breve o curso que faz, pois, toda a vida que existe é sugada. Em forma de sepultura, para por ali. Não vai encontrar o coração nunca mais, embora saiba que é ele que ainda o mantém vivo. Agora aquela ponta de gota que se vê no centro do corpo, perde a visão calmamente, no mesmo ritmo exausto do coração, deixa partir sem forças para continuar, o beijo doce.
Como uma pontada, ferro e gelo na ferida, o beijo no pescoço é o que a inocente criatura recebe, como punhalada final. Não é cruel, é o beijo! É o beijo doce.
O curso? O curso para de seguir. Não há mais vida. Ouve um crime perfeito: crime perfeito não deixa suspeito. Sobrou só sangue, sangue árduo, espalhado em um rastro que faz um desenho artistico no corpo e na alma. É o sangue que precisa e quer o coração, é o sangue que em gotas, é mais válido do que servido em um copo, numa bandeja.
O beijo amorteceu a dor, mas não tirou a morte. Ficou nos lábios o vermelho flamejante, que se apossando do assassino não quis perder o hálito fresco. O sangue repousa nos lábios. Enquanto isso ele termina de beijar, beijar e beijar a vítima: molhando o seu corpo com o sangue que o coração já não sente mais.

sábado, 7 de novembro de 2009

Cessar o pouco




Pouca gente sabe:
O mesmo frio que derrete
é o mesmo calor que dilui.
Pouca gente diz:
Vem mais perto, vem
Me mostra, vai.
Pouca gente quer:
Mar seco, sol frio, chuva de pedra
Talvez, ninguém queira...
Pouca gente sente:
Sangue cálido no cume da pulsação
A lágrima da decepção.
O que todo o mundo é:
Um pôr-do-sol de transmissão
De um pouco de tudo,
De um lado negro, sombra e luz.
Mas sempre
Esperando pelo o que vem,
Detrás do que não se vê e sente.

E. C. M.




segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Mais que força para amar é força para perdoar.

"Saber, definir ao certo a totalidade do que é esse sentimento quente, é querer saber mais do que o necessário. Entre tantas definições que vejo as claras sobre o que realmente é o amor, uma delas me é perfeitamente cabível: só existe esse sentimento intenso quando se há perdão. Só há amor quando já provou alguma dor; quando passou pela provação que ele nos trás.
Fácil é ver onde ele é ausente. Difícil é valorizar quando presente.
A única fórmula que não deveremos esquecer: mesmo com as dificuldades, com amor toda a beleza divina é intensificadamente verdadeira, e se é difícil com ele, imagina sem?  Tudo será mais prazeroso, pois a dor se torna pequena e nos tornará gigantes o perdão para suportar os rabiscos do nosso caderno.
Assim como o ouro, o amor precisa passar pelo fogo, para que o que for de melhor possa permanecer e eternizar... Eterno enquanto durar. Aliás, se for mesmo amor, eternidade é um tempo pequeno demais...

Ter a intensão de passar pelo fogo não é um meio de chegar ao cume do amor. Se realmente ele estiver presente, ele andará com o tempo e saberá a hora certa de dizer o que deve ser derretido e o que deve se tornar uma aliança, linda, forte como um laço, que caiba no dedo de duas pessoas que juram perante os céus se tornarem amantes em um tempo sem fim."