É quente.
Escorre pelo pescoço; calmo e úmido. Percorre a pele em um caminho sem rumo. Não tem direção, não sabe para onde está indo, mas sabe de onde vem. Talvez, não saiba o porquê. Ele sabe que é vermelho.
O gosto de ferro fundido com açucar, continua escorrendo pelo pescoço, esquivando-se dos ombros... Parando lentamente pelo peito, escolhendo por onde deve seguir o curso, em quanto atrás o rastro vermelho de fogo vai deixando as migalhas; chega até o centro e fica lisongeado por estar perto do coração. O que os separa é a pele, que agora arrepiada, sentindo o poder da flama, tenta expulsar com a intenção de deixar que o calor interno se espalhe com o fogo lá fora que desce, desce e desce.
É o corpo contra o corpo. A mente sem entender o por que, o coração batendo, querendo as gotas do rastro externo, quer a todo custo juntar-se aquele fogo. Ser um só. Poder fazer parte da marca que nasceu no pescoço e escorre, como a veia.
O caminho é escolhido. Ele vai; é breve o curso que faz, pois, toda a vida que existe é sugada. Em forma de sepultura, para por ali. Não vai encontrar o coração nunca mais, embora saiba que é ele que ainda o mantém vivo. Agora aquela ponta de gota que se vê no centro do corpo, perde a visão calmamente, no mesmo ritmo exausto do coração, deixa partir sem forças para continuar, o beijo doce.
Como uma pontada, ferro e gelo na ferida, o beijo no pescoço é o que a inocente criatura recebe, como punhalada final. Não é cruel, é o beijo! É o beijo doce.
O curso? O curso para de seguir. Não há mais vida. Ouve um crime perfeito: crime perfeito não deixa suspeito. Sobrou só sangue, sangue árduo, espalhado em um rastro que faz um desenho artistico no corpo e na alma. É o sangue que precisa e quer o coração, é o sangue que em gotas, é mais válido do que servido em um copo, numa bandeja.
O beijo amorteceu a dor, mas não tirou a morte. Ficou nos lábios o vermelho flamejante, que se apossando do assassino não quis perder o hálito fresco. O sangue repousa nos lábios. Enquanto isso ele termina de beijar, beijar e beijar a vítima: molhando o seu corpo com o sangue que o coração já não sente mais.
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