sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

"Por um instante os fatos pareciam penas voando entre pássaros: confusos, fora de ordem, multilados.
Ainda mais, me via em frente ao espelho negro, causado pela desilusão. É impossível, para mim, descrever nas miseráveis palavras com ou sem concordância o que acontece com o coração quando o tudo se transforma em nada.
Talvez, perguntas sem respostas, escolhas sem saídas, sejam a melhor forma de representar um "adeus".
Ele parou de dizer os motivos pela qual  partiria,  -  não que eu estivesse ouvindo, meus sentidos estavam sendo esmagados, assim como seus pertences dentro de suas malas - percebeu o meu deslize e me olhou como se sentisse saudade dos meus olhos... Eu o vi de novo como MEU. Definitivamente, só a sua sombra, a mesma que me tirava o ar, poderia devolver-me a conciência.
- Desculpe-me...
Quem pede desculpas por partir? Eu estava no mundo errado. Esse não era o meu mundo, o nosso mundo. 'Desculpas' eram o que procuravamos antes, para que esse amor miserável pudesse continuar a crescer. Desculpas não eram assim! Eu me lembro bem de que quando o erro estava feito, o perdão ardia e lá se ia o erro, pois isso é amor. Perdão é rodar pela sala, cochichar promessas mutáveis no ouvido, abraços fartos e beijos com infinitos olhares.
Agora, isso tudo estava se desfazendo bem na minha frente. Em vez do abraço, os lábios se auto-apertavam e os olhos vermelhos de lágrimas não derramadas.
Descobri que a força vem quando não a temos. Não sei como cheguei até a porta, mas eu bem sei que a claridade de um dia indo embora invandiu minha pupila, e única coisa que eu senti naquele momentos foi o calor do sol se espalhando pelo frio da noite.
Ouvi seus passos se aproximando... Passou por mim e como nada mais injusto, um vento estúpido soprou em seu pescoço e seu ar invadiu meus pulmões. Meu corpo teve uma reação já esperada, como quando a realidade nos derruba: lágrimas. Meus olhos ardiam.
Pedi rapidamente para o que quer que estivesse me ouvindo, que ele não olhasse para trás e visse o quanto de amor estava deixando para trás. Nesse dia, tudo estava fora do meu poder... Ele olhou. Seu ultimo e inesquecivel olhar.
Hoje, abri a janela e uma pena entrou por ela. Segurei delicadamente em minha mão amando-a por segundos. Ao longe vi pássaros voando livres, brincando, sendo felizes. Invejei os cantos mudos, desejando estar ali com eles... Afinal, uma pena poderia não me fazer tanta falta e eu realmente poderia ser feliz nessa liberdade, assim como os pássaros."

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