Olhos grandes, expressivos e brilhantes (rarissimos), combinando com seus cílios curvos; nariz fino e tão delicado, que se assemelhavam a copos de cristais em dia de Natal. A sua boca entrava em harmonia com sua maçã do rosto, era grande...belo mesmo era seu sorriso. Sua cor de luar lhe dava o toque final.
A casa era grande, haviam janelas por todo canto, não havia portas, não havia gente, não havia encanto ali. Cada dia, ela buscava uma janela diferente para ver o sol e o jardim de diferentes ângulos. Via passáros em árvores, flores nascendo, podia ouvir ao longe o som da água batendo nas pedras... E dava nome a tudo. Encostava o peito na janela e debruçava a sua cabeça sobre os braços, deixando que seus cabelos longos ficassem para fora da janela.
Passava ali o seu dia. Aquilo era felicidade para ela. Poder ver as mudanças da natureza com grande facilidade e saborea-las como se fossem suas.
Cresceu. Cresceu tanto que podia até mesmo sentar-se na janela. E disso ela gostava muito...
Um dia, o sol não nasceu. A chuva caiu, levando tudo o que via. Do lado de dentro podia se ouvir as trovoadas, o agito das árvores e o barulho da água se aflorando cada vez mais e mais...
Não entendia o motivo de tanta furia. Não havia nada na sua vida que lhe desse mais prazer do que ficar na janela, sonhando e vislumbrando a paisagem. Agora, de janelas fechadas se sentia vazia... Estaria ela sendo punida? Mas pelo o que? O que havia feito de tão grave que o que mais amava lhe foi tirado?
A sala estava escura e fria, quando então, resolveu abrir a janela. O jardim não era o mesmo, tudo estava fora de ordem, suas flores preferidas estavam do outro lado, havia árvores caidas.
Chorou tanto que acabou dormindo um sono pesado... Acordou e achou que tudo não passava de um sonho. Mas ainda podia sentir a dor no corpo que só a perda nos proporciona. Era tão real...
Os dias passam lentos e dolorosos quando nada nos pertence, quando nada faz sentido. Uma culpa grande vem nos atormentar "eu podia ter feito isso...", " se eu...". Assim, aquela figura de menina enluarada, com o corpo em leve movimento, se tornou fria e sem esperanças. Não havia mais o seu jardim.
Ouviu um barulho que lhe assustou muito. Alguma coisa estava do lado de fora e pedia para entrar. O engraçado, é que não sabia como, mas havia uma janela bem lá no fundo, que parecia maior e era justamente dali que ouvia o barulho. Chegou bem perto... Não teve a coragem de abrir. Não tinha forças para ver o seu jardim devastado.
Os dias passaram mais uma vez lento e sem graça; a prisão nos torna infrutíferos, alvo de nosso próprio medo.
Outra vez o barulho. Dessa vez, tão forte que se ela não abrisse, ele não pararia. A coragem só veio quando respirou fundo e pensou que nada poderia acontecer de pior do que perder o seu tesouro.

Mais do que ver, agora ela podia tocar. Não estava mais distante... Estava ali. Correu por todos os lugares, riu e chorou de alegria por muito tempo. Pode beber a água da vida, pode beijar as flores do amor... Agora, ela podia TUDO.
Deus, quando nos fecha uma janela, nos abre uma porta. Deus, quando manda chuvas nos tirar, nos dá o sol para renascer. Nós quando achamos que perdemos o que mais valorizamos, Deus nos dá outros motivos para viver. Acredite, nada é por acaso. Tudo está em perfeita harmonia em meio ao caos... Por que Deus não erra. "