sábado, 13 de novembro de 2010

Lost me.

- Por favor, me devolva.
- O que? - Disse ele sem entender aqueles olhos expressivos e aquela boca apertada contra os dentes.
- Tudo. Tudo o que você tirou de mim! - Ensaiou tantas vezes essa frase que poderia convencer um auditório.
- Não sei do que... - Seus olhos percorreram todo o espaço em busca de alguma lembrança que fizesse sentido naquele momento.
- É sua culpa! - Suspirou duas vezes e disse com a mão no peito: - Não consigo me completar com ninguém. Não consigo me amar. Onde você me colocou? Por favor, devolva-me!
Num estalo tudo fez sentido. A pequena dos cabelos negros até a altura dos ombros, parada ali na sua frente, o fez lembrar do passado. Ela tinha mudado. Alguma coisa nela estava diferente... Mas o que é mesmo que ela queria?
- Diz alguma coisa! Não me olha com...
- Não me lembro onde te dexei. - disse ele com um sorriso torto.
Ele havia entrado no seu jogo. Podia-se ouvir dois corações bater fortemente, quase no mesmo ritmo.
- Você me perdeu, então?
- Perdi... Não sei. Talvez eu tenha te colocado em algum lugar onde eu lembraria de procurar... Caso eu precisa-se. - Sua voz era firme e grave. Quase rouca... Isso provocou arrepios na morta-viva.
- O que eu faço agora? - Disse ela recuando um passo, para não cair nas garras do predador.
Ele avançou dois. Seus hálitos podiam se chocar agora. Seus olhos dançavam juntos, num compasso hipnotizante. AH! Só quem sentiu isso, pode entender o que significa as mãos suarem.
- Acho que restou alguma coisa de você dentro de mim. Mas é tão pouco...
- Não me importa! Devolva o quanto tiver. - Foi ríspida. A razão começava a falar mais alto; o coração já não tinha mais carta branca.
- Enquanto eu procuro onde o resto de você está eu vou devolver o que ainda possuo.
Como um lobo faminto que saliva antes de saborear o pobre cordeiro, aproximou-se com a boca entre-aberta e com os olhos nos seus. Sua pupila dilatou e ela já podia se sentir viva outra vez. O predador que devolve vida a sua presa.
Suas bocas se encostaram. Então, o lobo se apaixonou pelo cordeiro. Soube a partir daí que ela sempre esteve dentro dele, tudo estava adormecido. Ela... Bom, ela pôde então sentir mais uma vez suas veias dançarem dentro de si. Estava viva.

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