quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Raizes Entrelaçadas

Já não me importa se amanhã não for nada disso, hoje, três palavra ao vento, "sem tanta importância", soada em segundos, mudou meu dia. Alguma parte de mim estava com um nó, um nó cego. Mas só foi você chegar de mansinho, invadir o seu pequeno espaço - que vem tomando dimensões, onde eu não tenho mais nenhum poder - e pude sentir o nó se desfazendo, como o soluto no solvente desse querer. 
Quando acordei eu estava pensando no momento em que eu iria te sentir; e até o tal momento, eu te odiei. Te odiei por que eu esqueci de mim, esqueci de me querer, esqueci até de me olhar no espelho.
Essa dimensão é erva daninha, cresce em momentos indesejados (ou menos esperados). Ninguém plantou essa semente, ela veio e se apossou de um espaço apertado. É veneno e fogo ... Em três palavras eu senti o poder que você tem sobre mim, e o poder que eu esqueci de manter sobre o meu corpo - e minha alma.
Agora, tanto faz se depois for nunca mais, por que só de ver as nossas raízes crescendo juntas na pureza que nós -como é bom dizer "nós" - sentimos, eu consigo me desfazer de todo o nó e deixar que você venha enlaçar o invisível, mas essêncial... Você ainda não vê como eu vejo, e isso é outra coisa que não importa. Você sentindo o que eu sinto, e dizendo devagar a estupidez desse sentimento já faz minhas mãos quererem as suas.
Quando for consumado esse laço, eu não sentirei mais nó, se estivermos para sempre. E já não me odiarei se eu não me olhar no espelho... Eu sabarei que o meu reflexo é você e isso é o que me importa.




E. C. M.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Néctar insubstituível

Uma lágrima escorreu dos olhos da pequena flor, como o orvalho. Por obra e magnitude das ordens naturais, uma borboleta pousou e sussurrou para aquela colorida de formas perfeitas, que era preciso doar seu néctar. Era preciso esquecer a dor do que ficou, e ainda assim, achar forças para doar o melhor de si para que o processo pudesse continuar.
Gentilmente, a pequena borboleta enxugou as pétalas, e em agradecimento a flor doou seu néctar sem nenhum esforço.
A borboleta voltou no outro dia, mas novas borboletas tinham chegado primeiro, ela procurou em outras flores o mesmo sabor... Mas foi em vão.
De longe viu a flor cada vez mais forte e bonita, disputada por outras grandes borboletas; as outras flores se tornaram pequenas perto da sua grandiozidade. Tentou então se aproximar e entrar na disputa.
A ilusão da flor em pensar que aquela borboleta era diferente de todas, tinha se transformado em realidade.
A flor se afastou de tudo, de todos. Não voltou a beber os raios de sol, e se viesse a chuva, ela se entregava sem pensar em mais nada.
Depois de um tempo, quando suas raízes estavam sendo consumidas por outros bixos parasitas, a borboleta voltou e pousou sobre a pétala.
Sussurrou no seu ouvido alguns segredos, algumas experiências, algumas paixões. A dor seria mortal, se o tempo não tivesse mostrado à flor que os amores não são sempre certos; o amor de um amigo é a certeza de que se pode sonhar e não se decepcionar.
Ela o sentiu presente mais uma vez, e quando ela se fez linda aos raios do sol, a borboleta teve a certeza de que o amor que sentia, era um carinho delicado e sútil. A borboleta teve a certeza de que depois daquele dia, poderiam vir borboletas de todo o mundo, mas para a flor ela era insubstituível.

Eliandra C. M. em homenagem a F. D.

Miragem

Se alguém vier perguntar por mim, pode dizer que eu fui atrás das respostas. Pode dizer que a água aqui é calma e transparente. Diga que eu não abri a mão dos meus sonhos, por que eu continuo caminhando, cheia de esperança para ver onde desemboca essa fonte que nasceu lá atrás.
Dizem que onde há curso de água, há gente. Quando eu ver a fumaça saindo de alguma chaminé, eu saberei que existem humanos. Irei em outra direção; pegarei um pouco d'água e levarei comigo até achar outra fonte. Prefiro o som do coração da natureza do que a razão dos homens.
Não tem perdão para quem desvendar todos os mistérios e destruir todos os sonhos. A busca incasável é o motivo do curso da água; não sabe onde esta indo, mas sabe que chegará. Se eu voltar com todas as respostas destruirei a realidade humana - que insiste em destruir sonhos- e me terei como insana, se eu voltar de bolsos vázios, a minha viagem terá sido em vão. Aliás, a razão diz que não importa o tamanho do seu castelo de areia, um castelo de pedras é industrível.
Eu sei que retornarei com todas as realidades vividas e ainda com sonhos pulsando nas minhas veias. Por que eu não só experimentei como sei, que eu prefiro uma realidade feita de sonhos, do que uma realidade sem sonho algum.
Diferente da ilusão, que pega atalhos e tem como base a imaginação fértil, o sonho é o impossível querendo ser verdade. Há miragem no deserto, eu sei que existe, e por isso não estou sonhando; estou apenas criando o que eu queria ver... mesmo eu sabendo que não existe. Os sonhos são verdadeiros e podem acontecer. Não é miragem, é imaginação viva.
A nascente pode sonhar em fazer parte do mar, assim como o mar querer fazer parte da nascente. Se é realidade ou não, não importa, eles estão sonhando ...



Eliandra C. M.