sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Cruz que risca as nuvens.

“Sentou-se ao seu lado e olhou fixamente para a imagem a frente.

- Não consigo entender.
-Qual parte? – respondeu a garota, ajoelhada, ainda de mãos juntas entre a cabeça e com os olhos fechados.
- Tudo. Essa sua fé. Essa sua mania de rezar e esperar pelo impossível. – Chegou mais perto e disse: Qual milagre você espera?
Ela o olhou com os olhos cheios d’água e voltou para sua oração. Silêncio...
Ele a deixou e entrou no seu carro, olhando mais uma vez para trás, vendo a cruz erguida em cima da igreja riscar as nuvens .
Um barulho estranho no motor e cheiro de fumaça o fez parar no acostamento. 'Droga!', pensou. 'O carro quebrou.'
Tentou ligar para alguém. Celular sem bateria... Começou a chover; via-se raios por todos os lados. Ao longe viu um caminhão e acenou. Desceu um homem com barbas longas e correntes em volta do pescoço,  apontou-lhe uma arma: 'Dinheiro! Passa o dinheiro!' .
Tudo estava dando errado. Não havia mais o que ser feito.
- O que Você quer? – começou a gritar para os céus desesperadamente – Quer que eu morra aqui? Belo Justiça a Sua!
Estava começando a escurecer e a chuva começou a dar uma tregua. 'Se eu voltasse, talvez ela ainda esteja lá e me ajude.'
Começou a andar e a resmungar. Sem carro, sem nenhum dinheiro, roupa molhada, com frio e fome e tendo que andar pelo mato com bichos desconhecidos. Falou tanto com si mesmo que cansou.
Ao longe viu novamente a cruz riscar o céu, mas correu quando se deu conta do que havia acontecido. Metade da igreja estava sob escombros, a rua estava interditada, as árvores caídas e as poucas  pessoas da pequena cidade gritando o tempo todo.
Alguém o tocou e disse: O senhor não pode entrar ai. Como um surdo desesperado, entrou sem hexitar.
Procurou por ela como louco e a chamava aos berros. Foi tirando a madeira, o concreto, tudo que via pela frente com uma força inexistente. Chegou onde ela estava anteriormente.
Dormia como um anjo... Sua roupa cheia de sangue e o corte na sua cabeça, fez o pequeno homem chorar e tomá-la nos seus braços, pela última vez.
Por um tempo ali, naquele silêncio, em que só se ouvia dentro de si 'Por quê? Por quê?', ele olhou para a única parte intacta: o altar.
A imagem do Homem o emocionou. Como louco procurando pelo juízo, pela paz no coração, começou a rezar:
- Deus, não entendo nada de fé. Nunca acreditei em Ti. Nunca precisei rezar. Mas se isso a trazer de volta, se isso a fizer olhar para mim mais uma vez, então eu acreditarei e O seguirei. – Olhou mais uma vez para ela e sorriu em meio as lágrimas – Eu O entendo. Ela realmente faz parte dos seus anjos, mas não a toma de mim, assim, tão cedo, eu não tive tempo de dizer o que eu sinto. Não a leve de mim, meu Pai. Não a leve...
O silêncio fala alto. O silêncio é a parte mais dolorosa da saudade, que o amor sente. Por um momento ali, chorando e rezando baixinho, sentiu como se ela estivesse de volta. Então, a abraçou e encostou sua cabeça em seu quadril, como fazia há anos.
Ouviu um gemido. Um ruído. Levantou assustado e a olhou. Seus lábios se mexeram...
- Era esse... esse o milagre que eu esperava."

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