domingo, 23 de agosto de 2009

Advogada do Mar.

O sol nasceu aquele dia.
Um pé esquerdo, depois o direito, foram colocados ao lado da cama. Café quente e uma janela ao som do mar. Assoprou, bebeu, e saiu.
Com os pés na areia, sentindo se afundar, sentou. Nas primeiras horas da manhã, como era de costume, gostava de obervar a vazão do seu eu. Nunca prestou atenção nas ondas, na essência do nascer do sol.
Mas como no dia anterior, a chuva caiu dos seus olhos, e a tempestade dominou seu sono, o vazio que o café não cobriu, veio a lhe tornar inofensiva. O que antes era certo, estava errado demais. A confusão lhe fez esquecer do corpo, do que se passava por dentro.
Olhou para fora.
O mar. "Vou julgar o mar", disse com a voz baixa, imperceptível.
Pensou então em como aquela imensidão, se parecia com o seu eu. Era onda que vinha, onda que voltava. O amor trazia, o destino tirava. A onda quebrava estupidamente, arrastando tudo o que via pela frente. A saudade era assim. Trazia de uma única vez o que estava lá atrás, atropelando tudo, sem pedir licença. 
Enquanto a espuma secava, observou, a areia ficava mais fácil de afundar; depois de seca, era mais resistente. Enquanto dói um tombo, fica mais difícil levantar; depois de ajoelhados - com fé - a fortaleza fica nitida em nós. Isso não impede de, outras ondas virem, e arrancarem o que já foi construído. O engraçado é que os recomeços, são as chances de inovar.
As conchas mais bonitas, que estavam ao seu lado, colocou no bolso. As quebradas nem se importou em pegar.
O exterior é inofensivo, não tem culpa daqueles que o veêm assim. Aqueles que possuem chagas, cicatrizes vivas, são deixamos para lá. Mas trazem em si, o que ainda não aprendemos.
Com esse pensamento, devolveu todas as conchas em seu devido lugar. O curso natural deveria se profetizar sem um dedo humano. Devolver, não é perder, é ter a certeza de que estará lá, quando precisarmos. Prender é sufocar; e ninguém ama sufocado.
Quando voltasse, as conchas estariam ali, as que não estivessem, teriam de partir. Isso seria inevitável. Porém, algumas voltam... Recebe-las de volta é uma das escolhas que teria de fazer.
Ficou ali deitada, vendo a natureza de outro ângulo. Dormiu. Um sono sem sonhos.
Quando acordou, o sol estava indo embora. O mar estava quase chegando a onde tinha deitado, por pouco não molhou seus cabelos.
Quis molhar os pés, mas quando viu molhou-se até a cintura. O amr é convidativo; quando a alma está descansada, é mais ainda. Se entregar é fácil de mais. A correnteza não te deixa voltar, afinal, o mar é sózinho, é egoista. Não quer deixar partir aquilo que, por hipótese, é seu. A correnteza, não foi o motivo para que Mariana não voltasse á areia, o que lhe fez bem, lhe fez sorrir, foi os impulsos fortes que o coração dava, quando descobriu que sempre pertecenceu á um só lugar. Ao mar.
Mar e Ana - como era chamada- se tornaram únicos, dividindo um amor neutro - sal e açucar -, uma felicidade de encontro ao pôr-do-sol. Era lá que viveriam: onde há o sol.
Mergulhou e não pensou em voltar atrás. Estava feliz demais ali.
A água do mar molhou os seus passos marcados naquela areia fina, e em resposta a satisfação que sentia ao atrair uma vitima inofensiva - que dominava - deixou, em testemunha do dia que se passou, uma noite que estava por vir. O crepúsculo se fazia ao longe e nem Mariana - a doce Ana - voltaram.
Despois da noite, haveria um novo dia, um novo sol. Mas Ana se entregou ao mar e não viu a nova oportunidade.
 
 
Eliandra C. M.

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